Estou cercado pela escuridão. Meu coração está em disparada. Sinto o meu sangue se batendo contra as paredes de meu crânio. Eu não consigo respirar. O medo tem aleijado as minhas necessidades mais básicas. Bem, exceto uma. Ainda posso sentir um fluxo quente correr pela minha perna esquerda.
Meus pulmões estão queimando. Eu preciso respirar, mas sei que isso irá denunciar a minha posição. Se é que o cheiro da minha urina não fez isso antes. E então eu ouvi. Um som que a maioria dos homens só imagina em seus piores pesadelos. A sede de sangue, a raiva dirigida, o grito de ódio do meu perseguidor. Minha frequência cardíaca aumenta. Meu corpo congela. Meus instintos gritam "Corra, seu idiota!" mas aqui estou eu, congelado pelo terror. O cheiro de medo e mijo consome o meu entorno. Estou acabado. Estou condenado. Na escuridão, eu vejo dois pontos vermelhos brilhantes avançando lentamente até mim. Finalmente capaz de me mover novamente, eu pego a minha bolsa e retiro o objeto mais próximo de uma arma que eu possuía: um bisturi longo e delgado. Eu coloco minha bolsa no chão, tentando manter os sons dos meus outros instrumentos em silêncio. Mas falhei, chamando a atenção da fera de olhos vermelhos atrás de mim. Eu grito e corro, brandindo minha "arma" na esperança de eliminar este abastardamento da humanidade em um corte limpo e rápido.
Aquilo durou apenas alguns segundos. Ouvi gritos e o som daquela criatura tossindo sangue, e, finalmente, nada. Estava feito. O demônio estava morto. Mas o que era aquilo? A criatura havia me acertado também. Senti o sangue que saia do corte e sabia que eu também logo estaria morto. Deitei-me perto da minha vítima com a lâmina ainda dentro do corpo e aguardei quieto pelo abraço frio e obscuro da morte. Lágrimas encheram os meus olhos enquanto eu lentamente caia no sono eterno.
Acordei na manhã seguinte. Um sonho? A coisa toda foi apenas um sonho? Que alívio! Tinha certeza de que tudo fora real. Mesmo com a dor em minhas costas que ainda latejava como se eu tivesse sido mesmo atacado. Eu fui até a cozinha comer o meu café da manhã, fígado com ovos. Foi então que olhei para o jornal em minha mesa. A manchete dizia "Jack, o Estripador Ataca Novamente". Minha empregada, Mary Kelley, veio trazer o meu café da manhã, exclamando, "Terrível, não é? Quem faria isso? Pelo menos a pobre garota conseguiu ferir o Estripador, ao menos assim a polícia poderá identificá-lo guiando-se...". Foi então que ela percebeu a marca de sangue na minha camisa.
Mas desta vez não era um sonho.
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